sábado, julho 21, 2007

06*07, tablínio

06*07, tablínio
Ensaio sobre brasilidade

Que foi ser brasileiro? Que é ser de algum lugar? Identidade se relaciona com orgulho de pertencer a uma nação, ou a um povo, que seja, que tem a mesma fala. (Sobretudo no caso de nós, americanos.) O orgulho de coisas passadas -- apenas -- não basta. Para se orgulhar de ser, por exemplo, brasileiro, é necessário ter orgulho do que ocorre no presente. Eu poderei me orgulhar da música brasileira da década de setenta, mas, convenho: é passado. Passou. Não é do que eu me orgulho agora.
Observo as pessoas. A identidade brasileira mais destacada que percebi ser alguém que as pessoas admiram foi a de Gisele (será com dois "l"s?) Bünchen. É uma pena. É uma bonita menina, mas ... eu não me identifico em nada com ela, e, se ser brasileiro se reduz a comparar-me a ela, eu não me orgulho de ser brasileiro.
Também é vero, penso, e razoável pensar que os meios de comunicação parecem desprezar, em qualquer espécie de instância diferenciadora, ativa, a produção intelectual brasileira. Não posso dizer que não a há. Posso dizer que não é reconhecida, que não tem espaço, e que é confundida com marginalidade. E, talvez por isso, acaba se tornando marginal.
Também é vero dizer que uma grande quantidade de brasileiros se orgulha mesmo é da marginalidade verdadeira, que existe nos submundos do(s) modelo(s) de cidade que temos.
Não se criou um modelo de cidade que substuísse a capital, quando se fez uma nova capital para o país. Não digo com isso que a atual capital do país não seja uma cidade virtuosa, pelo contrário: Brasília é uma cidade que demonstra crescimento, não apenas estatístico (quantitativo, em avaliação de cidades), mas cultural, e de produção cultural (isto é, um crescimento qualitativo). Como livreiro, avalio isso em produção de livros. E não apenas Brasília, mas Belo Horizonte também, na mesma linha, apresenta, nos últimos dez anos, um crescimento qualitativo considerável.
O Rio de Janeiro estacionou, decaiu uma queda não incompreensível. A cidade não deixou de ser um lugar agradável, para quem gosta de lugares. Apenas se tornou um lugar de extremo pouco interesse econômico, e isso faz da cidade uma mancha, que a federação até tenta ajudar, mas não consegue. É a economia nacional que poderá, se quiser, se lembrar do Rio de Janeiro. Enquanto isso, nós, cariocas veros, que daqui não saímos de maneira nenhuma, e por nada neste mundo, a não ser por perseguição política, ou religiosa -- já que a condição citadina não permite turismo do carioca para outras partes, nem do Brasil, nem do mundo, coisa de que eu gostaria ... -- vivemos aqui, com nossas dificuldades. E recebendo os turistas do resto do mundo que acreditaram nas propagandas de desde a década 1950, de que a cidade é uma "maravilha". Talvez seja. (Não é possível, em sanidade, negar que a natureza alegra até mesmo ao carioca residente que não gosta de praia ...) Mas não somos diferentes de outras cidades. Somos até piores que algumas, agora que não somos mais a capital.
As cidades do nordeste brasileiro ganharam expressão, e uma identidade interessante para o pensar de uma identidade nacional: deram-nos feitio histórico-colonial. Salvador, Ilhéus, Recife, João Pessoa (antiga Filipéia), Olinda ... Não falarei muito sobre o que não conheço, mas posso dizer que já passou por minha mão feitos de produto cultural (livro ... compêndio didático, para fazer-me mais ilustrativo) que pode ser pensado como ato de valor, pérola, que nos surge daqueles lados.
Poucos se orgulham do que eu, em minha parvície ignorante, chamo no presente por 'o primeiro governo democrático brasileiro'. Me questionaram, certa vez: "Mas, então, os três ou quatro governos anteriores não foram democráticos?" Talvez tenham sido. Apenas, por mais que, no presente, discordem de mim -- e discordarão -- o governo Luíz Inácio é um feito na democracia brasileira. O pé esquerdo dá o segundo passo, no modo de cidade e de impêrium (federação) modernos. Penso que me orgulho deste governo por ser o segundo passo da democracia brasileira, desde o regime militar.
(Também me orgulho de que falcatruas que aconteciam antes não se tornavam escândalo(s) porque assim é a direita: comete delitos, mas esses permanecem por baixo das toalhas das mesas das negociatas; a esquerda, no modo brasileiro pós-militar, a meu ver, se caracteriza pelo interessante fenômeno de que os delitos ocorrem de semelhante maneira como são feitos nos governos privatistas, com diferença de que os privatistas mantêm os crimes, em silêncio, debaixo da mesa, e os pés-esquerdos, buscando alguma moralização, não temem em trazer os crimes para cima da mesa, ainda que todos estejam envolvidos nisso. Talvez seja um ato tolo, da parte de alguns, mas, para mim, revela intenções. Pelo menos as intenções dos pés-esquerdos é de moralizar o mundo. Os privatistas estão se lixando com o mundo, desde que os por baixo de mesas lhes encham os bolsos de dinheiros ...)
Assim, penso que me orgulho, um pouco do Brasil. Não das pessoas brasileiras, mas da história que estamos escrevendo, ainda que com sangue dos subúrbios cariocas. Entre sangue de outras pessoas, pois sou fluminense, e sei pouco do que ocorre em Sampaulo, ou em Porto Alegre. Nem saberei. Tenho que visitar Bahia e Minas Gerais, para visitar família. Gostaria de ir a Sampa, mas não poderei tão cedo. (Tenho bons amigos, em Sampa.)

1 Comments:

Blogger Jonga Olivieri said...

Nossa cultura está em crise. Uma crise profunda que afeta todas as suas formas de manifestação. E a música, como você citou, é um exemplo marcante do fato.

Eu não considero Gisele Bündchen um exemplo de nossa identidade. Ela se projeta para o mundo, mas é apenas e tão somente uma linda mulher. Sem dúvida nenhuma, uma linda e charmosa mulher. Mas a nossa identidade vai muito além disso.

Nossa mídia, principalmente a grande mídia (leia-se Rede Globo) é criminosa na missão de afundar a produção intelectual no Brasil. Pelo contrário, ela difunde a subprodução intelectual difundindo o gosto duvidoso, a música de pior qualidade e omitindo o que realmente acontece neste país; que hoje vive em guetos culturais.

Nossas cidades, ao crescerem de forma desordenada com um fenômeno de transferência da população as inchando, criou a miséria absoluta, ao extinguir a pobreza no campo. O “Jeca Tatu”, personagem de Monteiro Lobato surgiu numa época em que mais de 70% dos brasileiros moravam no campo. Hoje é absolutamente o contrário. Isto facilitou e disseminou a marginalidade, mormente após o advento do tráfico de drogas e seu acelerado crescimento.

O fato é que o Rio de Janeiro, ao deixar de ser capital, perdeu muito, encolheu, entrou em crise. Mas ainda continua a ser um grande balneário. Pode ganhar muito com o turismo e toda a série de atividades que a acompanham.

Concordo quanto aos caminhos da democracia no governo do senhor Luís da Silva. Acho que hoje temos uma certa liberdade de imprensa e de expressão como nunca tivemos anteriormente. E realmente, durante anos (principalmente no período da ditadura militar), nada era divulgado, tudo era por baixo dos panos. A violência periférica em todo o Brasil é evidente e fruto de uma péssima distribuição de renda. Hoje somos um dos piores países neste sentido...

terça-feira, julho 24, 2007  

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