sábado, setembro 22, 2007

06*19, tablínio | ou "desaguar"

06*19, tablínio
"Quijotescas", ou momento de ira #1

O mundo é cruel com todos os que vivem uma vírgula à margem dos códigos de estética. Chega a ser ridículo. Talvez eu tenha nascido na região errada do orbe, pois decidi usar as minhas barbas. Tenho 31, e achei que isso já era próprio. Porém, eu percebo que sou visto (e tratado) como um alienígena, um "estrangeiro", um bárbaro! ... Só porque tenho as barbas.
Talvez eu não tenha nascido para usar estas barbas que tenho, penso, mas, sincero? Combinam com a minha figura. (Com o meu nariz!) É uma pena que, até agora, eu sou a única pessoa que vê qualquer beleza e honra nas barbas que tenho.
Sou bacharel nas letras, livreiro por profissão ... Desempregado, e não usado pela cidade do meu tempo. Tenho até inglês fluente! De que adianta. Estou num beco escuro, sem saída, e com uma sarjeta desagradável para enfrentar.
O mundo é muito estranho. Eu poderia ser ... empregado (usado) para 1. livreiro, 2. professor de secundário, 3. professor de latim, 4. bibliotecário, 5. guia turístico, 6. vendedor, 7. redator, 8., poderia encontrar mais muitas funções em que a cidade poderia me usar, mas, até o momento, não tenho uso. O mundo é muito estranho.
Eu decidi não me mudar do Rio. Sou desempregado aqui. (Pois poderia buscar emprego em outros lugares, e, quando servi em editora, percebi que não era difícil sair do Rio, mas, como sou bairrista, não saio. Acho que estou sofrendo conseqüências disso.)
Às vezes me ponho a pensar sobre os mercados profissionais cariocas. (Livros, comércio.) É normal que tenhamos minguado. Deixamos de ser a capital, e a economia deixou de girar em torno do Rio de Janeiro, tem uns ... meio centênio, mais ou menos. Puxa!: bem que estava na hora de o Rio superar essa ... mágoa, vcs não concordam comigo? E entender que a economia nacional não vai mais girar em torno do Rio, que o Rio deixou de ser o centro do Brasil, e que o centro do Brasil passou para o centro do Brasil, que é Brasília.
Oh!
Mas me parece que a cultura carioca ainda não entendeu que nós não somos mais "cidade importante", mas nos tornamos apenas mais uma. E ninguém brilha por título, muito menos por títulos que não tem mais.
Se não somos mais a capital há mais-menos cinqüenta anos, e se a bossa-nova carioca morreu tem mais de vinte anos (porque, convenhamos que o fim de carreira do A. Jobim não foi gloriosa ...), devíamos estar pensando em valorizar a população carioca que vive nestes dias, e não de viver do passado, ou do medo de um futuro incerto -- que é o que domina o comerciante "de classe média", o comerciante burguês. (Porque o vulgo não está nem aí para as decadências econômicas.)
Mas o burguês carioca vive, hoje, com medo de algo inevitável: queda do padrão de vida.
Há um bom tempo, eu passei a usar o sistema de saúde pública, porque vi que não tinha cifrões para viver de pagar planos de saúde, como a geração de meus pais, burguesia frustrada, ainda acha que vai conseguir sustentar. Não posso dizer que eu goste ... Posso dizer que eu não tenho opção, e que gosto de viver na re(alidade). E a rê é esta: estou desempregado. Minha família foi rica há ... duas ou três gerações atrás. Agora, somos endividados os que querem continuar a achar que são ricos, e desempregados os que lutamos para viver com os pés no chão ... Qual será o meu problema? Será que estou mais fora d'água do que imagino? E eu nem sabia que era um peixe, mas, ora, no Rio de Janeiro, que poderia eu, por qualquer ventura, vir a ser?